quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Uma entrevista.... Percepções!

"Fui entrevistar um cara hoje, alias, agora.
O Camarada é um senhor de cinqüenta e poucos anos, que aparenta bem menos, três filhas, que depois de se aposentar resolveu fazer churrasquinho em bares. Se me perguntar porque ele quis fazer isso eu não sei dizer. Mas já tem nove anos que ele está lá, quase que religiosamente, durante toda a semana.
Aos domingos tira folga. Geralmente é nesse dia que seu time do coração vai jogar. E ele não perde uma partida!! Geralmente no estádio, vestindo a camisa do clube e cheio de alegria no rosto.
Alegria é uma constante.
Não bebe. Mas hoje o futuro genro foi visitá-lo no trabalho, abriu uma cerveja e pediu que dividissem, afinal, é quarta-feira, tem jogo do Brasil no Maracanã e vai passar na TV.
Entre um churrasquinho e outro, conversa com a gente. Conta sua história, um causo, mas é incessantemente interrompido por algum freguês que vem de longe apreciar seu tempero.
O cheiro da carne assada na brasa viaja pela esquina movimentada do bar. Antigamente era um lugar tranquilo. E justo hoje, pra lembrar desse tempo, teve morte ali por perto. Um rapaz de vinte e seis anos levou seis tiros poucas horas antes da nossa conversa, a algumas quadras de distancia da onde estávamos.
Ele vem contar com um riso triste no rosto. "Ele mexia com droga... É o fim de quem não larga disso!" Diz que deu muito conselho pro moço, mas não foi suficiente...
Conversa muito. Muito mesmo. E presta atenção na nossa presença. Olha, pergunta o que queremos, conta outro causo...
Até consegue puxar uma cadeira pra sentar na nossa mesa. E aí resolve declamar suas poesias.
Da sua boca saem palavras simples, que formam frases quase sempre diretas, e usam rimas honestas pra virar um poema sem tamanho. Decora e recita poesias desde os nove anos de idade. Virou uma paixão.
Conta que sabe muito mais de cem poemas, com muito mais de cem linhas."